quarta-feira, 13 de julho de 2011

O AMOR DO ESPOSO

Ef 5:25-33

Introdução:

Quando voltei da Paraíba para o Ceará, depois de 7 anos, cruzei com uma colega que há muito não tinha visto. Havíamos estudados juntos muito anos atrás. Depois de lhe cumprimentar fiz uma perguntinha para ela: Você casou? E escute a resposta dela: “Não me lance esta praga em mim não!” Tal mentalidade avessa, desdenhosa e porque não dizer blasfêmica é também retratada em diversas definições sobre o casamento: “O casamento, se enfrentarmos a verdade, é um mal, mas um mal necessário” “O casamento se assemelha a uma gaiola: os pássaros que estão fora ficam desesperados para entrar e os que estão dentro ficam desesperados para sair” “É único jogo de azar em que os dois parceiros podem perder”

Para a mentalidade moderna parece esquisita a ideia de que marido e mulher possam nutrir o mais profundo, livre e poderoso amor um pelo outro até que a morte os separe. No entanto não é só possível, eu afirmo a luz deste texto que o casamento é o espaço ideal para a manifestação e a expressão do amor.

Nesta passagem Paulo apresenta as responsabilidades dos cônjuges para um casamento harmonioso e feliz. A esposa deve ser submissa, claro que deve amar, mas seu foco é submissão. Ao marido é dado a responsabilidade de amar. A esposa se concentra na submissão; o marido no amor. Essas são responsabilidades essenciais, fundamentais, e quando há desequilíbrio pode-se averiguar que é um desses fundamentos está ruído ou desfeito.

O objetivo de minha palestra é examinar esta ordem dada ao marido – amar sua esposa. Para isto inicialmente vamos considerar as formas diferentes do amor, depois a partir do amor de Cristo vou apresentar marcas do amor conjugal e por fim vou sugerir implicações deste amor. Concluirei com um desafio para os casais.

I. AS FORMAS DO AMOR

Há 4 palavras no grego que podem ser traduzidos para “amor”, com conotações diferentes, Paulo escolheu uma delas, aqui vou apresentar as 2 possíveis e uma surpreendente.

1. Eros – Amor Físico

Esta palavra não ocorre na Bíblia. Na mitologia grega Eros é o nome do deus do amor [na romana Cupido], na psiquiatria este termo é usado para designar o impulso sexual, físico. E popularmente conhecido como amor sexual ou físico.

Paulo poderia ter usado este termo, e em certo sentido estaria certo. O amor sexual é legítimo e desejável no casamento. Sexo antes dele e fora dele é pecaminoso e ausente nele também é I Co 7:3. O marido deve sentir atração física pela esposa. Sexo não é a parte suja do casamento.

Mesmo sendo legítima não foi esta a Palavra que Paulo usou, pois embora o sexo é importante no casamento ele não se constitui em ultima instância o fundamento supremo que o sustenta. Por mais importante que seja, ele não o mantém por si só um relacionamento conjugal. Aliás o eros requer e carece de outra dimensão para que ele sobreviva. O casamento requer algo mais profundo.

Infelizmente esta é a perspectiva que o mundo retrata sobre amor. O mundo entende amor como se fosse exclusivamente eros. O amor é visto como atração física e sexo. Alguém se atraída fisicamente por outra pessoa e diz: “Eu amo e que casar com você”. Franscis Shaffer filósofo cristão afirmou que o pensamento secular é gerado no meio filosófico, despeja-se nas artes, vai para cultura popular e entra por fim na igreja. Assim aconteceu com esta ideia nociva. Pois foi Freud que afirmou que a força motriz de todos os relacionamentos humanos, comportamento e atitudes é o sexo. E as pessoas absolveram este destrutivo pensamento, nem tanto por meio dos escritos freudianos, mas por meio da cultura geral que foi moldada a luz deste pensamento. Este elemento é o mais propalado pelas novelas, filmes e “celebridades”.

Esta não é a verdadeira base do casamento. Pois uma marca do Eros é sua instabilidade, ou sazonalidade, ele vem e vai, vai e vem. Muitos podem passar por período em que o eros fica fraco e acabam por assim entenderem que devem terminar o casamento, pois para este o amor acabou. Muitos casamentos que estão fincados nesta base, estão sujeitos ao fracasso. Muitos se casam apenas para legalizar socialmente esta atração. Então quando a esposa envelhece, vem as rugas, o marido já não a acha mais bonita, ele covardemente a deixa. Na verdade ele nunca a amou. Teve uma atração física, visual, quando acabou ele foi procurar em outro lugar.

2. Fileo – Amor amigo

Paulo poderia ter usado a palavra “fileo” [filantropia, filosofia, Filadélfia] que também pode ser traduzida por amor. Esta aparece no NT várias vezes. Esta tem uma nuança especial denotando amor fraternal, amizade. Aponta a ideia de relacionamento fraterno e amigável entre pessoas. [Embora aponte o amor de Deus e de Cristo]. Este amor amizade estaria baseado em gostar da pessoa por inteiro. Você gosta do temperamento, da maneira de falar, do jeito da pessoa.

Em tese, a esposa deveria e deve ser a melhor de todas as amigas. O casamento proporciona um ambiente para desenvolver uma amizade profunda, amadurecida, devido aos desafios da vida a dois. Portanto é esperado que elementos que expressam amizade possam ser vivenciados no casamento: o companheirismo, a afinidade, o sentir-se bem com a outra pessoa. Este elemento muitas vezes por não existe destrói arruína o casamento. Muitos casamentos acabam porque falta amizade. Estes se transformam em estanhos e às vezes inimigos. No entanto por mais importante que seja este elemento, a amizade, não foi isto que Paulo colocou como a dimensão mais profunda e requerida do cônjuge.

3. Ágape – O amor de Cristo

A natureza deste amor procede da vontade e determinação, não das emoções [como eros e fileo]. Como podemos compreender o significado deste amor, que é o modelo ou fundamento maior para o amor do esposo? Onde podemos olhar e refletir sobre este amor? Há alguma expressão clara que nos revele o que de fato vem a ser Ágape?

"Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós" (I Jo 3:16). Embora muitos possam dar uma definição do que é amor [poetas, pensadores]. João ousa dizer que, sem Cristo e sua cruz, o mundo jamais teria conhecido o verdadeiro amor. É claro que todos os seres humanos experimentam certo grau ou qualidade de amor. Mas João está dizendo que apenas um ato de amor puro, não manchado por alguma nuança de segundos motivos, foi praticado na história do mundo, a saber, o amor de Deus que se deu a si mesmo em Cristo na cruz por pecadores que não o mereciam. É por isso que, se estamos procurando uma definição de amor, não devemos ir ao dicionário, mas ao Calvário.

Portanto, este amor foi revelado, exemplificado, demonstrado, visualizado em Cristo, e em especial, em sua obra máxima, a Cruz! E é a partir do paradigma deste amor, o amor de Cristo pela igreja, que Paulo se utiliza para descrever a natureza deste amor. O amor de Cristo é o modelo do amor do marido pela esposa.

II. AS CARACTERÍSTICAS DO AMOR DO MARIDO

1. É incondicional

Cristo amou e se entregou por ela. Paulo aponta a cruz. Em que condição estava a igreja quando Cristo a amou e manifestou seu amor por ela? [Rm 5:8]. Este amor não é baseado em qualquer mérito ou qualidade que tivéssemos. É incondicional. Deus não nos amou impondo condições. Ele nos amou imerecidamente.

A história da Cinderela nos ajude a entender a natureza deste amor, por contraste. Cinderela era a moça que vivia na casa da madrasta tendo como as duas filhas de sua madrasta. Era maltratada e queria ir a festa do casamento do príncipe mais não podias. Então apareceu uma fada madrinha que a transformou numa bela princesa com uma linda carruagem. Ele foi a festa e o príncipe se apaixonou por ela e os dois acabaram-se casando-se. Uma linda história de amor. A pergunta é: Será que o príncipe se apaixonaria por ela se tivesse visto antes dela ser transformada, lá na cozinha, maltrapilha, suja, cheirando a suor e a gordura?

Eis aqui a diferença entre o amor do príncipe e de Cristo. Cristo amou a igreja maltrapilha, suja, pecadora, miserável, indigna, feia e em estado terrível que o pecado pode deixar uma pessoa. Ele resolveu, decidiu amá-la não motivada em algum mérito, não porque aprouve e ou mesmo goste de seus erros, mas por sua vontade e decisão soberana.

O amor de Cristo é diferente do amor celebrado pelo mundo. Amamos o belo, o agradável, o cheiroso. [Data-Show - Os animais feios estão em extinção]. O amor de Cristo é incondicional, ele não olhou a nossa feiura, nossa fraqueza, amou-nos sendo nós ainda pecadores.

Este é o amor que nós maridos devemos manifestar a nossas esposas. Amá-las, e determinar-nos a amá-la apesar de seus defeitos, fraquezas, e erros. Amá-la mesmo com rugas e máculas! Amá-la incondicionalmente!

2. É voluntário

No plano eterno da salvação, o Pai propôs-se salvar a igreja mediante a morte substitutiva e voluntária de Cristo na cruz. O Filho voluntariamente se ofereceu ao Pai, dizendo: “Eu morrerei pelo pecado do povo”. O amor portanto foi voluntário, não foi uma imposição do Pai. Vemos várias vezes Jesus enfatizando que seu ato de entrega é voluntário, ele veio porque quis. Essa oferta [entrega] implicou em humilhação e renúncia.

Ninguém pode amar incondicionalmente e voluntariamente sem passar pela humilhação, pelo quebrantamento, pela renuncia do ego. Em Fp 2:5-8 vemos o caminho palmilhado por Cristo até a cruz! Ele foi humilhado e sacrificado na revelação do seu amor. Ele desceu pela escada da humilhação. Deixou temporariamente sua glória onde habitava como Pai, tornou-se homem, não um rei, mas um escravo [Mc 10:45] e por fim morreu de uma forma humilhante na cruz. Ele fez isto tudo por amor! Não haveria salvação de este amor não fosse revelado na cruz.

A natureza deste amor envolve renuncia. Renuncia de nós mesmo a procura do bem da esposa. E nisto está a nossa alegria. Você não casa para fazer sua esposa feliz e nisto está sua realização. Quem é o servo no casamento. Diferentemente da imagem tão comum de um homem que espera ser servido, exige egoisticamente prazer e tem suas esposas como empregadas, Cristo expõe uma face contrária. Ele é o servo, que serve por amor. Não veja, em nenhum momento tal renuncia como algo terrível. Em nenhum momento vemos Cristo ao se entregar por nós queixando-se, murmurando, reclamando, tudo foi voluntário. A própria renuncia foi um ato de prazer!

3. É santificador

A igreja é composta dos eleitos, que manchados pelo pecado estavam caídos, corrompidos e culpados com o resto da humanidade. Cristo deu-se para libertá-los deste estado, derramou seu sangue para resgatá-la e purificá-la do pecado. Cristo a resgatou e a adornou, santificando-a. Santificar é separar algo para Deus. Assim Cristo morreu para separá-la do resto da humanidade, para ser sua amada.

Portanto tudo começou numa escolha. É como um homem que entre várias jovens afirma: “Esta é a minha esposa”. É esta escolha que sustenta o amor.

Este processo iniciado na escolha, concretizado na morte, com vistas na santificação, continua no cuidado diário de Cristo pelos eleitos. Cristo está a destra de Deus intercedendo, adornando-a, preparando-a para si. Santificando-a! Ele santifica aqueles por quem morreu. Se não há santificação você não pode afirmar que Cristo morreu por você e que você é salvo. Cristo santifica os salvos e todo o salvo será santificado. Ele cuida da sua igreja. Ele a escolheu, morreu por ela e zela por ela.

É assim que os maridos devem amar suas esposas, cuidando delas, promovendo o seu crescimento espiritual, orientando-as, ajudando-as nas suas dificuldades. [Ils. Gary e o sorriso da Gláucia] [Ef 5:27].

III. IMPLICAÇÕES SOBRE O AMOR DO ESPOSO

1. O amor possui uma dimensão espiritual

O amor requerido exige morte do ego, renuncia e zelo pela esposa. O marido tem a tendência de ser servido em vez de servir, tratam suas esposas como empregadas e não como companheiras exigindo delas o cuidado, prazer e o conforto. Certamente esse amor voluntário, incondicional, zeloso não é fácil, é na verdade impossível. Somente os maridos verdadeiramente salvos são habilitados a amarem assim, porque experimentaram este amor em Cristo. Além da conversão há uma necessidade de uma vida cheia do Espírito. Uma vez que este padrão é alto, por nós mesmo não o alcançaremos, daí porque o contexto desse mandamento é o imperativo “Enchei-vos do Espírito...” [Ef 5:18]. Só no poder do Espirito Santo é que vocês serão capazes de amar sua esposa. Devemos buscar uma vida cheia do Espírito Santo! E uma verdadeira espiritualidade é revelada na maneira como o marido trata a esposa. É o Espirito que transbordando em nossas vidas fará fluir esse amor divino para com nossas esposas!

2. O amor é aprendido

É importante termos esta dimensão, para que não espiritualizemos o amor. Aprendemos a amar! Nenhum rapaz deveria casar a menos que já tenha aprendido a amar assim. Se assim não for é melhor ficar solteiro, pois fará a sua esposa infeliz, se o namorado só sabe exigir, cobrar, receber, e não aprendeu a renunciar e morrer para o ego ele não é apto para o casamento.

Como Dietrich Bonhoeffer escreveu para um jovem casal: “Não é seu amor que sustenta o casamento, mas de agora em diante, é o casamento que sustenta o amor.”

"A aliança feita é o que sustenta o amor, e não o amor a aliança. Romance e a paixão é algo bonito, e voltar a se apaixonar, uma e outra vez, é importante … [Mas] voltar a se apaixonar após muito tempo de dor, somente pode ser sustentado se elevar a aliança acima dos afetos e romance,” diz John Piper.

3. O Amor é Prático

O amor é prático, não é apenas de palavras [meu xuxu, meu amor da minha vida, meu docinho de coco, paixão, “mãe”]. É muito comum e as vezes é hipocrisia [em casa é “sua tonta” “sua burra” “é doida”]. Portanto o amor é prático, é concreto, é expressado não necessariamente em atos extravagantes, mas diários e simples, é sua conduta em casa, diante das dificuldades, criação dos filhos, finanças, etc.

Conclusão: Maneiras Práticas de Amar a Esposa: http://www.youblisher.com/files/publications/8/47388/pdf.pdf

Pr. Luiz Correia


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