segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A AUTORIDADE DE CRISTO

Mc 1:21-28

Introdução:

Temos caminhado no livro de Marcos vendo como personagem central a pessoa de Cristo. Vimo-lo sendo revelado em sua grandeza na identificação com o homem, na unção do Espírito, na aprovação do Pai e na tentação do diabo. Vimos que ele inicia seu ministério e para isto recruta discípulos a seguirem, chamando-os para serem pescadores de homens. Agora Marcos vai descrever um dia [24 horas] na vida de Jesus e seu alvo é continuar descortinando Jesus a nós. Hoje contemplaremos um aspecto de sua natureza que revela toda sua grandeza e poder, meditemos em sua AUTORIDADE.

Entende-se autoridade como o [Aurélio]: “Direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens, de tomar decisões, de agir, etc.; aquele que tem tal direito ou poder, aquele que tem por encargo fazer respeitar as leis.” No hebraico significa aquele que tem poder, força, já no grego significa poder absoluto. Temos em nossas vidas a necessidade de autoridades: os pais, professores, governante e os pastores, todos eles tem sua autoridade delegada, apenas Cristo é a autoridade suprema e absoluta. Pensemos sobre duas áreas da autoridade de Cristo...

I. A AUTORIDADE SOBRE O ENSINO

O ministério do ensino era prioritário na vida de Jesus. Ocupa o centro em suas atividades. Embora Marcos se detenha em descrever as ações de Jesus tendo em vista o seu público [os romanos] e o seu alvo [revelar Jesus ativo], não podemos negar que o ministério da Palavra, de ensino/pregação é a principal atividade do Mestre [Mc 1:14-15]. Muitas pessoas ficaram conhecidas como mestres na área de ensino e do pensamento. Jesus sobrepuja a tudo e a todos, como o mestre por excelência. Ninguém pregou o ensinou como Jesus.

Porque Jesus tinha autoridade no ensino? O que faz de uma pessoa ter autoridade para ensinar? Quais são alguns sinais fundamentais que dão a alguém a autoridade para ensinar/pregar?

1. Pela maneira que lida com a verdade.

a. Jesus Conhecia a verdade

Jesus conhecia muito bem a Palavra. E não era por ser Deus. Ele crescera no conhecimento desde menino [Lc 2:52]. Ao longo do seu ministério citou cerca de 20 livros do AT. Dois episódios revelam o grande conhecimento da Palavra por parte de Jesus: (1) Sua tentação onde ele usa com maestria a Palavra e (2) após a ressurreição onde faz uma exposição do VT para os discípulos em Emaús.

b. Jesus era Fiel a verdade

Jesus, diferentemente dos escribas, ensinava fielmente a Palavra. Estes torciam, manipulavam, escamoteavam a verdade, ensinando doutrinas de homens em lugar de exporem fielmente a verdade. Os escribas [doutores] tornaram a lei um fardo legalista. Jesus, porém, pregava com fidelidade aquilo que Deus revelara.

c. Viva a verdade [encarnava]

Os escribas, pregadores da lei, viviam a citar determinada autoridade ou especialista para dar credibilidade ao seu ensino. Jesus não precisou recorrer a autoridade fora de si mesmo. Ele conhecia a Palavra, sua correta explicação, mas acima de tudo ele vivia. Ele era a Palavra em pele humana.

Para horror de todos, Jesus quebrou esta corrente de tradição. Ele não invocava os pais, mas o Pai. Falava não como rabino, mas como Filho. Pro­nunciou um novo início da revelação. Isto era algo monstruoso: ele não trazia a revelação...ele era a revelação em pessoa. Ele não só conside­rava a tradição dos rabinos ultrapassada, mas até um corpo estranho. O juda­ísmo tinha deformado Moisés. Perguntaram atônitos de onde vi­nha sua autoridade (aqui v 27, lá v 11.27ss). [Adolf Pohl]

Jesus não precisava recorrer a nenhuma outra fonte de autoridade, ele era a própria fonte. Sua sabedoria vinha de dentro, não de tradições. Ele colocava-se como a autoridade, com convicção e poder [Eu, porém, vos digo...[Mt 5]]. Jesus acima de tudo vivia o que ensinava. As pessoas viam corporificada a Palavra. Ele pregava com a vida! Seu maior sermão foi seu sacrifício de amor por nós! A maior coisa que os discípulos aprenderam de Jesus não foi só suas palavras, mas sua influência.

Este é o elemento mais importante na qualificação de um professor/pastor/pregador é aquilo que ele é. Um exemplo vale mais que mil palavras. “Aquilo que você é troveja tão alto que não posso ouvir o que você diz”. Jesus foi a encarnação da verdade [Jo 14:6]. Ele é 100% aquilo que ensinou.

2. Pelo Método de Ensino

Não creio que Jesus criou uma metodologia conscientemente, nem desenvolveu uma teoria pedagógica e educacional, mas ele mostrou conhecer profundamente o processo de ensino-aprendizagem. Os sermões e ensinos de Jesus eram dinâmicos. Ele conhecia como ninguém a maneira de penetrar com profundidade o coração humano com a Palavra. Ele usava as oportunidades e todos os recursos para que em cada situação seu ensino fosse eficaz e impactante. O ensino de Jesus era carregado de ilustrações, portanto o ensino dinâmico, não árido e seco.

3. Pelo Assunto que aborda

Jesus não fala de assuntos banais e efêmeros. Ele não foi um mestre de banalidades. Ele falou de assuntos centrais sobre a vida, a morte, a eternidade. Jesus falava de assuntos de suma importância para a vida humana.

Aplicações:

1. Todos nós, direta ou indiretamente, temos a missão de ensinar e estamos envolvidos na tarefa de ensino. Os pais, os responsáveis e os irmãos de maneira geral. Devemos ter autoridade em assim fazer. Esta é, aliás, a principal, não única tarefa do pastor. O pastor deve ser cobrado pelo ensino:

Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. [II Tm 5:17]

Todos que lidam diretamente com ensino da Palavra devem levar a sério esta missão. Independentemente de quem esteja ali, seja criança, velhos, jovens, independente da ocasião. Não se pode ser irresponsável com o ensino.

2. Devemos ser bastante criteriosos quando nos sujeitamos a papel de aprendiz e ouvintes. Não podemos ser irresponsáveis dando ouvido a qualquer pessoa que ensina. Mesmo que esta tenha título ou fama. Atualmente vemos uma multidão de mestres na mídia. E eu vejo com bastante receio o que está sendo ensinado e muito mais o que algumas pessoas estão aprendendo.

O resultado disto é confusão e apego a idéias e doutrinas humanas, sem fundamento. Deus deu-me a graça de Deus de ser pastor deste rebanho, missão que assumo com temor e tremor crendo que toda autoridade vem dele. Então aprenda a ouvir seu pastor e seja humilde.

Fico feliz em ver que alguns irmãos me procuram para tirar uma dúvida, percebo em seus corações que são sinceros e que me busca atrás de saber qual a vontade de Deus. Sei do peso e da responsabilidade e creio que aqui ninguém é tolo para perceber se tenho ou não pregado a Palavra com fidelidade e zelo.

Portanto cuidado ao colocar sua vida e sua mente irresponsavelmente nas mãos de outros. É terrível quando um falso ensino adentra-se na mente de uma pessoa para tirar. É preciso ser humilde e temente a Deus para dizer: Estou errado em pensar assim! Portanto cuidado!

II. A AUTORIDADE SOBRE OS DEMÔNIOS

Pensemos sobre algumas verdades que derivam deste episódio:

1. Os demônios se apossam das pessoas.

Devemos ter cuidado com extremos na abordagem deste tema, um extremo que nega toda realidade da possessão e o outro que afirma que toda insanidade mental é sinal de possessão. Tratar uma pessoa doente como possessa é um terrível engano e uma perversa atitude. Alguém já disse que é melhor chama diabo de gente do que gente de diabo.

Existiu e ainda existe possessão [endemonhiamento]. Isto é um fato, não é ficção. Não foi um fenômeno passado, foi passado e é presente. Isto é uma realidade afirmada pelas Escrituras e confirmada pela experiência pastoral. Aqui o demônio dentro dele, usa de seu corpo e de sua voz.

2. Os demônios destroem as vidas das pessoas.

Os demônios se alojam na vida das pessoas e escravizam de uma forma profunda. Como um imitador barato o diabo quer habitar no homem, como Deus quer habitar. Só que Deus usa os meios legítimos, persuadindo os corações e levando-os a crerem pela fé e em amor. O diabo usa o engano como meio de se infiltrar na vida dos homens.

Uma pessoa sob o controle do diabo é uma dramática realidade. Os demônios levam estas pessoas a uma vida de miséria e destruição. A palavra “espírito imundo” revela muito bem a natureza das atividades demoníacas. Eles usam as pessoas para toda sorte de perversidade moral, corrompendo a obra prima de Deus tentando o atacar indiretamente assim.

Eles trabalham visando induzirem o homem a pecar contra Deus. São anjos caídos que unidos a Satanás rebelaram-se contra Deus e tornaram-se pervertidos e maus. Eles provocam sofrimentos e misérias sob aqueles a quem eles dominam.

Mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.[II Tm 2:26]

3. Os demônios temem e se sujeitam a Cristo

Jesus é a luz do mundo e quando Ele chegou as trevas não puderam se ocultar. Os demônios não se podem ocultar na presença de Deus. A presença manifesta de Deus é insuportável para os demônios. Quando Jesus se manifestou ali na sinagoga os demônios não resistiram a sua presença. Foi tirado seu disfarce até então oculto.

4. Os demônios sabem quem é Jesus

Ele disse: “Bem sei quem és”. Jesus é conhecido no céu, na terra e no inferno. É irônico a narrativa de Marcos, pois afirma que as pessoas se questionavam acerca de quem era Jesus, mas os demônios não. Os demônios entendiam que Ele estava quebrando seu poder sobre os homens.

“Por que Jesus é identificado com tanta clareza com seu nome, sua missão e sua natureza? É evidente que a defesa quer recuperar seu poder: Você foi reconhecido! Em uma tentativa desesperada de derrotar Jesus, o mistério da sua pessoa é revelado aos gritos.” [Adolf Pohl]

5. Os demônios sabem que Jesus é juiz deles

Os demônios sabem que Jesus um dia vai lançá-los no lago do fogo [Mt 25:41] e temem que Jesus antecipe isto [Mt 5:7]. “Vieste para perder-nos” não indica mudança geográfica, mas posicional “vieste dos céus para terra”. Os demônios entendiam que um dos propósitos da vinda de Jesus é por fim ao domínio do diabo. Derrotá-los!

Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.[I Jo 3:8]

Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, [Hb 2:14]

6. Jesus não aceita diálogo com demônios

Jesus repreende e ordena. Ele decreta uma ordem concisa e clara: cala-te e sai deste jovem. A palavra cala-te significa “seja amordaçado”. É verdade que ele gritou, mas não pronunciou mais nenhuma palavra. O demônio obedeceu e se sujeitou, de má vontade é claro, mas se sujeitou [v.26].

"Preste atenção na brevidade assombrosa: Jesus não pergunta o nome, não faz uma oração-relâmpago, não fica fora de si em êxtase, não murmura fór­mulas, não recorre a objetos como os exorcistas judeus, não usa raízes medi­cinais nem vapores anestésicos - nada além desta ordem nua. [Adolf Pohl]"

Há pessoas que fazem entrevistas com demônios, outros dão ouvidos a revelação de demônios, mesmo sabendo que é o pai da mentira. A palavra “repreendeu” significa reprovar ou envergonhar. Jesus julgou e o expeliu. Nada mais e nada menos. Os demônios estão debaixo da autoridade de Jesus.

7. Jesus não aceita testemunho de demônios

Embora o diabo soubesse e testemunhasse de Jesus ele não aceita. Ele não quer reconhecimento de demônios. A relação que Jesus tem com estes é de julgador. Paulo de igual forma não aceitou. Devemos ser cautelosos de onde vem elogios!

Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. 17 Seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação. 18 Isto se repetia por muitos dias. Então, Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu. [At 16:16-24]

Conclusão:

A autoridade de Jesus nos diz algo profundo e fundamental: Se Ele é autoridade no ensino e se Ele é autoridade sobre os demônios, Ele é autoridade em minha vida? Ele governa meu viver?

Pr. Luiz Correia
[Deus meus et omnia]